quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tonho Cego e a Sonfona

O sanfoneiro cego do Ovo da Ema numa viagem com Asa Filho e Edísia

O sanfoneiro cego do Ovo da Ema numa viagem com Asa Filho e Edísia

Pelo msn o poeta Asa Filho me comunica que Tonho Ceguinho, do Ovo da Ema, vai se apresentar na Cidade da Cultura por esses dias vindouros. Uma hora e meia depois estávamos na estrada, conosco também a tradutora Edísia Moura que nos encontrou no Feira VI, a caminho para São José das Itapororocas.

A Lagoa de São José está seca. Uma lama já perto da Br é a única lembrança de água por aqui.

Ildes Ferreira vendeu a chácara que tinha na entrada da sede do distrito.

Quando passamos ao lado da igreja secular Edísia revela que já foi professora em São José. Dá aquele risinho e cala-se. Edísia fala pouco.

Entramos na estrada de barro no rumo certo do Ovo da Ema. Não posso deixar de lembrar do debate político de 96 quando José Falcão colocou para Josué a fatídica pergunta sobre o povoado.

A conversa descambou um pouco para política. O poeta de Tiquarussu sabe as histórias da política da zona rural. Foi bom que ele soltou uma informação preciosa para compor a imagem do entrevistado com quem iríamos encontrar: Tonho Ceguinho já tocara para o presidente Lula, quando este foi candidato a Presidente pela segunda vez. Saiu até na Veja, poeta! – diz Asa Filho dirigindo o automóvel nas estradas por onde passaram muitas vezes os citados Colbert Martins e José Falcão da Silva.

No som do carro, Amelinha e Zé Ramalho cantam trágicos. Edísia não emite um ui.

O Ovo da Ema você precisa conhecer se lá ainda não foi. Edísia, metropolitana, saiu do mutismo: o povoado é aqui? Asa lhe explica que ali é núcleo, a referência, as outras casas estão espalhadas, nas roças. São assim as localidades da zona rural. Uma igrejinha ao lado da escola e uma pracinha sombreada e calçada com pedras portuguesas.

- Tonho Ceguinho!!! Tonho Ceguinho!! – o poeta de Tiquarussu já sai do carro gritando. Uma senhora aparece de uma das casas próximas à igrejinha sem santo no nicho da pequena torre. É dona Virgínia, que reconhece Asa e faz coro aos gritos chamando o filho.

Cego com um ano e meio de idade, Antonio Alves Ferreira se apresenta: sou o popular Tonho Ceguinho. Nasceu ali mesmo, no Ovo da Ema, há 52 anos e dali nunca saiu. Aos 12 anos, “vexado pra aprender a tocar” começou a aprender a manejar a sanfona pé-de-bode de Altino. “Ele colocava meus dedos para poder dizer qual era o som”.

Quando aprendeu um pouco, foi exibir sua arte na feira livre de Feira de Santana, às segundas-feiras e “arrumar um trocado” para sobreviver. Quando a feira acabou não migrou com ela para o Centro de Abastecimento.

Pergunto se ele conhece o vereador Getúlio Barbosa. Dá um sorriso, balança a cabeça e diz que já tocou para “tudo que é político”. Aproveito para perguntar sobre a tocata pra Lula. Confirma o que Asa falara no caminho: foi no Calandro, outra localidade.

Meu primo que se chama Lourenço, chamou: vamos no encontro com as comunidades?, Lula vai tá lá, e nós vai e leva a sanfona pra você tocar.

-E você votou nele naquele tempo? - perguntei.

- Não - respondeu.

- Votou na última eleição... - quase afirmei, convicto.

Ele fez um pouco de silêncio.

- Não, nunca votei em Lula – e arrastou "Vida de Viajante" na sanfona, emendando com um xote de sua utoria que pretende colocar em CD que quer gravar nos próximos tempos, a Deus querer! (Jânio Rêgo) Crônica de Domingo

Fonte: http://www.blogdafeira.com.br/index.asp?ano=2009&his=11

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